segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Cartas para Adriano - 1ª parte


Me virei na cama, joguei o braço para poder te abraçar como sempre faço e então eu acordei. Você não estava ali.Meus olhos se encheram rapidamente com lágrimas. Elas transbordaram e rolaram pelo meu rosto. Abracei o travesseiro e ali chorei sentindo seu cheiro que eu não sabia se estava impregnado nas roupas de cama ou se na minha memória. O tempo passou e eu não me importei com isso. Sei que chorei e abafei meus gritos com o travesseiro, e que inúmeras vezes tive alusões de sua presença.O telefone tocou e todas as ligações eu recusei. As mensagens chegavam uma atrás da outra, e todas perguntavam como eu estava. Diga-me, como explicar o inexplicável ou o obvio? Como explicar que você forçadamente deixou para trás sonhos, metas e o amor da sua vida? Como dizer que eu jamais vou ver seus olhos fixos aos meus e que perdi junto de ti a vontade de viver? Como se explica pra alguém que a razão dos teus sorrisos e anseios não existe mais?Ainda estou com suas ultimas frases e a sua musica presa na minha mente. Sou capaz de ser tele transportado para aquele momento e analisar a cena de todos os ângulos, mas o que eu jamais esquecerei foi o toque da sua pele junto a minha. O ultimo toque, o ultimo abraço, o ultimo beijo, o ultimo olhar, o ultimo adeus. Não consigo acreditar que tudo aquilo foi o ultimo que eu tive de você.É difícil aceitar que você se foi. É difícil aceitar que eu te perdi. É difícil entender e acreditar que tudo que eu tenho agora são lembranças e que elas serão eternamente lembranças.Levanto da cama e tento buscar o equilíbrio dentro de mim para sustentar o corpo em pé. As coisas continuam do jeito que deixamos ao sair de casa. Sua toalha estendida atrás da porta e a minha jogada encima da penteadeira. Me pergunto porque eu nunca ouvi você e coloquei ela no lugar certo. Seus sapatos continuam ao lado da cama e o guarda roupa aberto como você havia deixado. Fecho o guarda roupa, recolho a toalha e a sua calça que estava atrás da porta e vou levando pra cama para poder abraçar e sentir você como forma de tê-lo comigo. Algo cai do bolso da calça e ali eu vejo uma carta endereçada a mim. Solto um sorriso bobo e abro a carta. Sem ler eu a fecho novamente. Eu não quero chorar mais e sei que ao ler eu chorarei. Então eu a abro novamente e começo ler as primeiras linhas. Minha visão se turva e a quantidade sem fim de lagrimas faz com que eu não consiga prosseguir. Grito alto tentando tirar do coração a dor que aquelas palavras me trazem. Era impossível aquilo ser real, era impossível que eu logo te encontraria para um ultimo adeus. Era impossível que aquela carta tivesse sido escrita daquela forma. Controlei o choro e mais uma vez recusei ligações insistentes. A cada palavra que lia eu chorava mais. A cada minuto que passava eu compreendia mais o que havia ocorrido.A campainha começou a tocar e eu ignorei, eu não queria ser tirado do nosso canto. Não queria que as memorias fossem alteradas e nem que as pessoas me perguntassem como eu estava. Não queria ser abraçado por ninguém que não fosse você.Continuava a ler a carta, pausando a cada fim de frase pra limpar as lagrimas que não paravam de brotar. Era como se minha alma não parasse de sofrer e as lagrimas fossem a tradução deste sofrimento. Em alguns momentos, conseguia imaginar você escrevendo alguns trechos, com a testa franzida e a caneta correndo livre pelo papel traduzindo seus pensamentos.A campainha tocava insistentemente e me tirava a atenção das tuas palavras que eu absorvia como se fosse essencial para minha vida. Caminhei lentamente, lendo cada trecho e chegava ao fim da carta quando cheguei à porta. Ali, nas ultimas três palavras meus olhos se fixaram e eu fiquei em choque. Aquelas palavras pareciam saltar do papel. Perdi a força e me apoiei na parede pra não cair. A campainha tocou longamente desta vez e decidi atender. Abri a porta e inexplicavelmente ali você estava. Por poucos segundos meu olhar se fixou ao seu e então tudo ficou branco.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quantas vezes


Me diga,
Quantas vezes seu coração já não foi partido em milhões de pedaços?
Quantas vezes quis desistir e apenas sumir?
Quantas vezes você já se magoou com alguém especial?
Quantas vezes não passou dias e dias chorando?
Quantas vezes não sentiu um aperto no coração?

Mas de verdade responda,
E quantas vezes você morreu disso?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

UTOPIA


Poderíamos casar e ficar juntos para sempre. Teríamos uma casa ou um apartamento, tanto faz. Em alguns dias levantaria mais cedo e traria café na cama com um bilhete dizendo o quanto você é especial pra mim. Assistiríamos a filme de terror, e se você sentisse medo eu te abraçaria bem forte e te protegeria de tudo. À noite, te envolveria em meus braços e independente do meu cansaço, faria você dormir e velaria seu sono antes de cair no meu. E se você tiver um pesadelo, novamente te abraçaria e você não precisaria temer mais nada.

Não arrumaríamos a cama diariamente e a geladeira viveria repleta de congelados, coca cola, chocolate e doces, mas volta e meia eu cozinharia seu prato predileto e você se lambuzaria com o molho da lasanha do jantar. Nos dias quentes iríamos para a sala apenas de roupa intima, colocaríamos a nossas musicas preferidas e dançaríamos como dois adolescentes ate cansarmos e cairmos juntos no tapete que compramos na liquidação.

Sairíamos para locar um filme num dia de chuva e chegaríamos encharcados em casa. Eu te beijaria assim que fechasse a porta e faríamos amor ali mesmo, deixando as roupas molhadas espalhadas pelo hall. Depois te faria um chocolate quente e assistiríamos os desenhos animados que tanto adoramos.

Em um final de semana iriamos para um parque qualquer e brincaríamos correndo um atrás do outro como se fossemos crianças, eu te pegaria, rolaríamos pela grama e no meio de um abraço gostoso, olharia em seus olhos e iria dizer que te amo.

Passaria horas, dias te observando, estudando suas feições e caretas e gravaria cada uma dentro de mim para que quando precisar, fechar os olhos e lembrar a perfeição que é estar ao teu lado. Nas tardes chuvosas em que no sofá de casa você dormiria nas minhas pernas, eu ficaria mexendo no teu cabelo, te fazendo um cafuné enquanto troco de canal na televisão. E quando você acordasse pedindo desculpas por ter cochilado eu te calaria com um beijo e agradeceria por você ter me dado motivos para sorrir numa vida onde tudo era escuridão.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2012


Hoje acordei feliz. O sol brilhava lá fora e a poucos metros o mar me esperava deliciosamente gelado. Caminhei pela manhã na extensão da praia apreciando detalhes que talvez só eu dê o devido valor. Sentia o sol aquecer a pele, o vento passar por entre o meu cabelo moicano e tentar desarrumar o que tentei manter arrumado com gel. Sentia a areia entre os dedos dos pés conforme eu ia andando e ouvia os sons característicos do mar, aquele som que embala, que acalenta e que desperta o desejo de se aprofundar nele. A minha volta, crianças corriam para o mar enquanto outras corriam do mar. Casais andavam de mãos dadas e amigos dividiam risadas provavelmente de casos ainda do ano novo. Ao meu lado, inerte a tudo isso, minha amiga me acompanhava e volta e meia parávamos para tirar uma foto ou outra de forma que sempre estávamos rindo dos resultados. Porém, por mais que eu estivesse de corpo e sorrisos ali, minha mente viajava paralelamente em pensamentos alheios que me fizeram sentar aqui agora e escrever.

Ultimamente meu lado introspectivo tem estado na superfície e fazendo-me colocar os neurônios a todo vapor para poder talvez deixar enterrado no extinto 2011 os medos, metas e ideais falhos do ano.

No ano em que eu pude ser de tudo um pouco vejo que eu não fui nada do que eu planejava no início do ano e isso é positivamente bom.

Em 2011 eu fui o amor de alguém, e por covardia fui também o destruidor de corações. Fui o amigo fiel e fui o escudeiro inveterado. Fui pai e como amei fazê-lo. Fui sonhador e o canal de sonhos de muitos. Fui irmão e não só para meus infinitos irmãos de sangue, mas para meus irmãos de coração que se precisasse citar nomes aqui eu faria de todo o coração. Fui o egoísta, que deixei de viver minhas dores para compartilhar de suas dores. Fui calouro e me deliciei tanto com isso. Tive inúmeras profissões e me dediquei a todas elas com afinco. Fui o palhaço Gozo que levou alegria pra inúmeros corações e pode ter de retorno aprendizados de vida incríveis que me fizeram esta pessoa que muitos amam ou que alguns detestam. Fui a criança que com olhos do gatinho do Shrek pediu um afago na cabeça e pra retribuir deu uma cambalhota pra tentar chamar a atenção. E diante de tanta personalidade perdida dentro de mim, vejo que não são faces perdidas e desconexas e sim partes de um todo que eu consegui ter e manter para ser quem alguém sempre precisou.

E diante de tanta coisa vivida, tantas histórias pra contar me vêm um ano diferente. Algo que está predestinado a ser quem sabe perfeito. Algo que está predestinado a quem sabe ser uma bagunça. Uma bagunça de ideais, sonhos, desejos, momentos e possíveis realizações eu me pergunto: o que espero de 2012?

E a resposta mais correta e sensata é que eu não espero nada. Pela primeira vez em longos 24 anos eu inicio um ano sem metas, sem perspectivas, porque prefiro não tê-las do que me frustrar. Ideais, sonhos, estes eu levo comigo, mas não tenho pressa de realiza-los, não colocarei prazos para o que eu não sei se realizarei. Pretendo viver 2012 como tenho vivido esses primeiros dias aqui na praia: aspirando cada detalhe dos momentos e transformando eles inesquecíveis dentro de mim, porque no final serão somente eles que eu terei.