sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Loucura iminente


Aquela era pra ser apenas uma apresentação comum, sem grandes emoções. Eu já tocava naquele lugar há quase dois anos e conhecia cada um dos clientes que freqüentavam ali, toda quarta à noite. Meu repertorio, costuma ter de 22 a 30 músicas, dependendo do humor da galera e do clima da noite. Aquela noite, véspera de um feriado importante e dia do meu aniversario, a noite tinha um ar descontraído. Cantei umas quatro ou cinco canções, não me recordo corretamente, foi então que ela entrou. Nossos olhares se cruzaram e internamente fui tomado por uma sensação de euforia. Eu a desejava.

Ela se sentou numa das mesas situadas no meio do bar, onde eu podia ter uma visão privilegiada do seu sorriso bonito. A pessoa que a acompanhava sentou-se em sua frente. A noite foi passando e volta e meia nossos olhares viviam se prendendo um ao outro. Meu desejo por ela foi aumentando em cada olhada que ela me dava. Me entreguei a uma música e quando me dei conta, ela beijava o cara que a acompanhava.

Ela me olhou com um olhar, como se dizendo ‘desculpa, não teve como’, eu apenas balancei a cabeça, e sorri como quem diz, ‘tudo bem, faz parte’.

Como é comum, durante a noite, os clientes do bar pedem alguma música e dedicam para alguém em especial, geralmente uma namorada, ou um ficante que os acompanha. O garçom veio e me trouxe um papel onde estava escrito: “Canta ‘Encostar na tua’ da Ana Carolina que eu largo tudo para ficar com você.” Olhei para ela, que sorriu me desafiando.

Criei coragem e falei:

- Essa música eu ofereço a uma loucura iminente.

E cantei.

“Eu quero te roubar pra mim / Eu que não sei pedir nada / Meu caminho é meio perdido / Mas que perder seja o melhor destino...”

Ela levantou da sua mesa. Veio sorrindo com as mãos colocadas no bolso do jeans. Continuei cantando e encarando ela. Subitamente, ela puxou o violão das minhas mãos e me beijou, me deixando sem fôlego. O bar parou e ficou olhando. Depois começaram a aplaudir.

Fiquei sem jeito, pois há muito tempo cantava naquele bar, porém o dono do bar só deu uma piscada pra mim de trás do balcão.

Olhei para a mesa onde ela antes estava e o garoto que a acompanhava tinha ido embora. Cantei mais cinco ou seis músicas e terminei o show.

Saímos então, eu e ela para mais uma das noites da minha vida.


Crazy